Fargo - Cinecult

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Olá!!! Continuando após uma pausa no Moviemento, hoje na verdade publico um texto de um tempo atrás mas que é sempre bem vindo, atual. Trata-se da crítica do "novo clássico" Fargo, de 1996, texto originalmente publicado no O Cinemista onde colaborei por um bom tempo. Mas em breve tem material inédito aqui no Movimento, inscreva-se para receber as notícias, acompanhe também nas redes sociais, deixe seu comentário! 

UMA COMÉDIA DE ERROS

Ao deparar-nos com as cenas finais de Fargo, sobre tudo com a sequência do triturador de madeira e toda a conclusão da história, é com grande espanto que lembramos do “aviso” no início do filme: “Baseado em fatos reais”. Não se sabe ao certo até que ponto tudo aquilo é real ou imaginação da dupla, ou ainda como sugere um dos irmão em entrevista: Uma compilação de fatos, recortes de acontecimentos em lugares e épocas diferentes costurados em uma só história.

Por outro lado, essa é uma das características mais marcantes da filmografia de Joel e Ethan Coen, o bizarro, o extraordinário e cruel, juntam-se com o banal e o cômico, numa mesma linha, ritmo e frequência, não destoando nem parecendo estranho aos olhos. “Fargo”, “Gosto de Sangue”, “Onde os Fracos Não Tem Vez”, “Queime Depois de Ler”, são todos exemplos dessas improváveis misturas que, nas mãos habilidosas dos Coen, vem dando ótimos resultados.

Produzido em 1996, “Fargo” é o que se pode chamar de um “novo clássico”. Com orçamento baixíssimo para os padrões de hollywood, o longa levou duas estatuetas de melhor roteiro e atriz para Frances McDormand. Além dos próprios irmãos, os atores William H. Macy e Steve Buscemi – que, até então, fazia importantes mas pequenos papéis como em Cães de Aluguel e Pulp Function – passaram a despertar maior interesse em toda a industria cinematográfica.

Jerry Lundegaard (William H. Macy) é gerente de uma revendedora de automóveis, passando por sérios problemas financeiros. Ele elabora um plano para dar a volta por cima. Trata-se do sequestro da própria mulher. Para isso, contrata Carl (Stevie Buscemi) e Peter (Gaear Grimsrud). O resgate será pago por seu sogro, um rico empresário que tem por Jerry um total desprezo. Tudo parece perfeito até que Jerry e seus dois comparsas mostram-se atrapalhados por completo, incapazes de dar cabo da “missão”. Uma sucessão de erros começa a frustrar os planos de Jerry, tornando a história cômica e trágica. É nesse cenário que aparece a chefe de policia Marge Gunderson (Frances Mcdormand). que está nos últimos meses de sua gravidez, mas intrépida e com uma visão aguçada para cada detalhe. Ela mergulha nas investigações de um homicídio triplo que a levará até o sequestro de Jean Lundegaard.

Toda essa história acontece na fria e distante Fargo, Dakota do Norte, sob uma nevasca constante em uma amplidão branca e isolada. O clima e o espaço tem, portanto, grande influência no ritmo do filme ao passo que, manchas de sangue contrapostas com a neve ou qualquer outro acontecimento estranho, vão ganhando um contraste gigantesco diante da vida pacata daquela pequena cidade. Escrito pelos irmãos, o roteiro de Fargo, assim como a maioria dos filmes da dupla, teve instruções rígidas para ser seguido à risca, um trabalho minimalista que foca desde movimentos, expressões, pausas ou hesitações, completo e detalhado. Por outro lado, nada em todo esse trabalho é gratuito ou meramente estético e alegórico. Tudo tem sim uma função na construção da história, de dar apoio ou mais ênfase ao que se conta, exemplo disso é a atenção dada ao dialeto, gírias e ao sotaque local presentes nos diálogos.

Assim Joel e Ethan Coen vão construindo sua história na mundo do cinema, unindo o grandioso com o pequeno, o inusitado com o corriqueiro, tendo ritmo europeu, cara de independente e a força e amplitude do cinema norte americano…


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