Literatura de Esbarrão - Suicídios Exemplares

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Em seu quinto livro, publicado em 1991, o espanhol Enrique Vila-Matas aponta para o que mais tarde nos livros "Bartleby e Cia" e "O Mal de Montano", seria sua característica mais marcante, a literatura do vácuo, ou ainda a literatura do não. Um mergulho profundo nos bastidores do exercício da escrita. 


Porém se "Bartleby e Cia" é relato de um escritor que não escreve e constrói um romance de notas de rodapé e "O Mal de Montano percorre A obsessão pela literatura e pelo literário e a prática do diário íntimo por diversos autores, "Suicídios Exemplares" visita o mundo de personagens que tramam, querem mas nunca conseguem concluir o suicídio. Como de praxe nos textos de Vila-Matas personagens cultos sempre envolvidos com a arte possibilitam sempre uma enxurrada de informações e referências culturais.

Enrique Vila-Matas
Mas não façamos literatura


Mas não façamos literatura. Pelo mesmo correio (ou amanhã) registradamente enviarei o meu caderno de versos que você guardará e de que você pode dispor para todos os fins como se fosse seu. [...] Adeus. Se não conseguir arranjar amanhã a estricnina em dose suficiente, deito-me para debaixo do "metro"... Não se zangue comigo.
Mário de Sá Carneiro - (Carta à Fernando Pessoa, 31-03-1916)


Rosa Schwarzer volta a vida


...Meu pobre e querido Hans, pensou enquanto abria a janela e o ar frio entrava de uma vez em toda a sala, e Rosa Schwarzer seguiu pensando na infinta desgraça de seu filho, até que pensou de repente na possibilidade de se atirar no vazio, ou melhor, no duro pátio da vizinha, aproveitando aquela segunda ocasião, tão fácil como inigualável, que se apresentava para tirar a sua vida e faze-la alcançar a liberdade, ao desprender-se de tudo e de todos,e sair por fim deste trágico e grotesco mundo. Mas logo se deu conta de que seu filho precisava muito dela, ainda mais do que seu marido, e que aquela, sim, era uma verdadeira razão para continuar vivendo. E para dizer a si mesma que continuava viva, perfeitamente viva, Rosa Schwazer provou um pedaço de queijo...


Minhas desculpas, peço desculpas - apressou-se em dizer o boêmio com grande educação, um pouco assustado com aquele olhar fulminante de uma Rosa Schwazer que se sentia capaz de tudo, pois estava convencida de que ninguém havia tido - o pobre boêmio muito menos - uma manhã tão intensa e perigosa como a sua. Sempre à beira da morte e sempre a deixando para trás, no ultimo segundo, o abismo. Já eram três as oportunidades que havia desperdiçado aquela manhã, três claras e precisas ocasiões para se matar. Isso a fazia se sentir tão segura...


A arte de desaparecer


    ...- Mas é que a mim, amigo Hvulac, sempre me horrorizou o sentimento de protagonismo. Sempre amei a discrição, o anonimato em tristeza, a glória sem fama, a grandeza sem brilho, a dignidade sem remuneração, o prestígio próprio...


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Um comentário:

Anônimo disse...

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